O prefeito Jeremias Trevisan
voltou da missão técnica do Chile. Esta foi promovida e custeada pela AMESNE - Associação dos Municípios da
Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, e contou com o apoio da UCS -
Universidade de Caxias do Sul. Na comitiva, 31 pessoas, dentre as quais 25
prefeitos, 3 vice-prefeitos, 1 representante da Universidade e 2 representantes
da AMESNE. A missão ocorreu entre o dia
02 e 09 de Novembro.
Em sua volta, o Prefeito
Municipal de Paraí, Jeremias Trevisan, recebeu em seu gabinete a reportagem do
Jornal Elo Regional para expor as experiências trazidas da missão.
Inicialmente, o prefeito saudou os leitores do jornal Elo Regional e
falou das diferenças entre os dois países. Jeremias citou a autoconfiança
do povo Chileno: "temos que aprender
com os Chilenos a vender o nosso peixe. Os chilenos chegam a criar uma história
para poder vender os seus produtos. Outro fato que me chamou atenção é a
cultura do povo Chileno, que sabe muito bem diferenciar a nação dos políticos
que comandam, os políticos corruptos são afastados, e a nação não sofre
qualquer tipo de abalo perante seu povo. Também sobre isso, percebi que o povo
trabalha e age em prol do crescimento do país, o povo chileno trabalha para ver
o seu país crescer e ser melhor que os outros. Outro conceito importante, e que
foi muito difundido nas próprias palestras, foi a mudança da concepção
ocorridas em duas décadas, do pensamento do ‘MI, MI, MI, para NOSOTROS’, ou
seja, deixaram de lado o eu para
pensar coletivamente e, na minha
opinião, temos que nos espelhar neles".
Prefeito Jeremias, qual é a
diferença entre Brasil e Chile na gestão Pública aplicada?
"Lógico que tudo o que eu observei não é
regra, mas é a minha visão. Primeiro que o sistema de comércio daquele país é
totalmente liberal, lá eles adotam um sistema de comércio livre e pagam menos
impostos, mas não tem grande retorno em serviços públicos. As estradas são
privatizadas, o transporte é privatizado, telefonia é privatizada, a energia é
privatizada, porém... mesmo com o transporte privatizado, lá, como aqui,
existem problemas de locomoção, especialmente nas cidades maiores ".
EDUCAÇÃO:
"Em relação ao que temos no Brasil, o
Chile está um pouco acima, mais pela dedicação do povo do que por ações do
governo, tanto é que a educação é basicamente privatizada, existem escolas e
universidades públicas, mas os alunos pagam para frequentá-las."
SAÚDE:
"A
saúde no Chile não é o melhor exemplo para nós. Tudo é centralizado pelo
Governo Central, que é o nosso Governo Federal aqui, depois vem o Intendente
que é nomeado pelo Presidente, e seria para nós o Governador. A função do
Intendente é mais figurativa, as decisões são tomadas pelo Presidente. O que
pra nós é prefeito, lá é chamado de Alcaide, e segue a mesma linha do
Intendente, mais figurativo. Praticamente todas as decisões são tomadas pelo
Presidente, que define também a saúde. O Governo investe 7 dólares por mês em
cada cidadão Chileno na saúde básica, o que é muito pouco em relação ao que se
investe aqui. Outra diferença, é que no Chile há um déficit de 1.500 médicos, e
o salário pago aos profissionais oscila entre 1.500 e 2.700 dólares.
AGRICULTURA:
O
Chile é um tradicional produtor de vinhos, e ostenta alguns dos vinhos mais
vendidos no mundo. Qual é a diferença no cultivo da parreira no Chile e a nossa,
na Serra?
"Eu acredito que por se tratar de um país com
livre comércio, o vinho Chileno busca uma excelência para ser exportado, então
todo produtor de uva e vinho vai ter que produzir com qualidade, senão não vai
vender. Aqui nós temos um grande mercado interno, que não é tão exigente quanto
o mercado externo. O fator climático também é um grande diferencial, lá a
produção é feita em clima seco, árido, no verão praticamente não chove no
Chile, e as parreiras são irrigadas com o degelo das montanhas, na forma de
gotejamento. Também usam ventiladores em cima dos parreirais para evitar o
excesso de umidade, mas são técnicas, condições de solo e clima
diferentes".
Além
de servir para irrigar, as águas que escorrem das montanhas são usadas para
gerar energia elétrica.
No Chile, só 5% da área territorial é explorada
pela agricultura, o restante é deserto, montanhas, geleiras ou é litoral. 95%
dos agricultores tem de 2 a 12 hectares de terra, e toda a propriedade agrícola
tem um cadastro georeferencial.
"Outras atividades na agricultura
Chilena, pela ordem, são silvicultura que é o plantio de árvores para
comercializar a madeira; o cultivo de oliveiras, para fabricação do azeite de oliva,
e que acho que pode ser implantada especialmente em nossa região; e só depois
aparece o vinho. Isso tudo com um
cuidado para evitar acidentes, depois de constatado através de pesquisas, que o segundo maior índice de acidentes no país
era na agricultura. Foi aí que o governo criou uma política de segurança que
obriga os trabalhadores rurais ter um seguro de acidente de trabalho. Há um
treinamento de como lidar com máquinas, inseticidas, e obrigam os trabalhadores
frequentar os cursos. Produtor que não o fizer, não recebe o seguro e não tem
as certidões exigidas. Depois de adotar esta medida, o número de acidentes na
agricultura caiu de 9% para 4,6%".
Segundo o prefeito Jeremias Trevisan, o saldo da missão foi positivo,
"a irrigação é um bom exemplo para
ser aplicado aqui, além da educação, e alguns cultivares como as oliveiras e nozes,
que lá está bem avançada e podem ser implantadas em nossa região. Porém, temos
pontos em que somos a referência: a questão tecnológica, a saúde, a indústria.
Mas, o melhor de tudo isso é que depois de uma viagem como essa a gente
descobre que o melhor lugar do mundo é a nossa casa, e que temos coisas boas em
nosso país.”
Fonte: Jornal Elo Regional